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Nunca quis guardar as minhas coisas. Eu adoro as minhas coisas.

Não são coisas banais, são objetos importantes que me foram dados por estimados amigos, alguns dos quais já faleceram; são livros, milhares de livros que me são queridos e que me ensinaram a viver e a ser, são discos de grandes músicos e poetas líricos que também contribuíram enormemente para o que sou hoje, e alguma arte, sobretudo de amigos, que dão cor à minha vida e trazem-me recordações.

Mas quando foi feita a escolha para me mudar para Portugal, para começar nada mais nada menos do que um Self-storage, por ironia do destino, tive de guardar os meus objectos num Self-storage no meu país. Ah! Guardar! É um pouco como esquecer. Como esquecer que em tempos amámos algo ou alguém. Longe da vista, longe do coração, diz um provérbio francês, e é verdade. Aprendi a viver sem nenhum deles. Adaptei-me como qualquer pessoa confrontada com a escolha de se afastar das suas raízes. Adaptei-me e guardei todos os meus pertences antes de vir para Lisboa, e não me arrependo.

Certifiquei-me, no entanto, de que o espaço onde os guardava era seguro, acolhedor, protegido e coberto por um seguro, para poder dormir descansado. E foi o que fiz. Encontrei o melhor self-storage e fui para lá. Já passaram 5 anos e mal penso nisso.

Um amigo ofereceu-me uma garagem para guardar tudo, claro que recusei. Numa garagem? Porquê? Estas são as coisas que me são queridas e, mesmo que não as veja, quero saber que estão seguras.

Por isso aqui estou eu, em Lisboa, sem preocupações, até ao dia em que for buscar as minhas coisas. Às vezes, sento-me na praia de Carcavelos, a 10 minutos da minha casa na Abóboda, e penso para comigo que talvez guardar num espaço seguro e limpo tenha sido uma das melhores decisões que tomei. Romântico! Guardar bem ou não guardar! Era essa a questão.

E eu respondi.